SEQUENCIA DIDÁTICA INTERATIVA APLICADA NO
PROCESSO DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
Maria Marly de
Oliveira*
RESUMO
Este
artigo trata de uma nova ferramenta didática denominada de Sequência Didática
Interativa (SDI), que vem sendo utilizada por professores da Educação Básica, e
que cursam o Mestrado do Ensino de Ciências e Matemática da UFRPE. A partir de
um diálogo inicial com aplicação da técnica do Círculo hermenêutico-dialético
(CHD) é solicitado aos estudantes escrever em uma pequena ficha de papel o
conceito sobre um determinado tema dos componentes curriculares, e segue-se uma
série de atividades que resulta em um só conceito do grupo-classe. A partir
deste momento, começa a fundamentação teórica da temática em estudo de forma
dialógica e complexa, com base em Freire (2004) e Morin (2005). Neste estudo,
são apresentadas e analisadas duas experiências que foram realizadas pelos
mestrandos Silveira (2009) no Curso de Ciências Biológicas e Cavalcanti Neto
(2010) no Curso de Pedagogia. O resultado obtido nestas duas pesquisas nos
permite afirmar que a utilização do CHD por meio de uma SDI facilita a
dialogicidade entre professores e alunos e dos estudantes entre si. Também é
importante ressaltar a efetiva participação dos estudantes em cada uma das
atividades da SDI, bem como o desenvolvimento da criatividade, criticidade e a
produção de novos conhecimentos.
Palavras-chave:
Formação de professores - Circulo hermenêutico-dialético - Sequência didática
interativa.
INTERACTIVE DIDACTIC SEQUENCE APPLIED TO THE TEACHER
FORMATION PROCESS
Abstract
This article deals with a new teaching tool called
Interactive Didactic Sequence (IDS), which has been used by teachers of Basic
Education, who attend the Master of Teaching Science and Mathematics of UFRPE
(Rural Federal University of Pernambuco). From an initial dialogue with the
application of the Hermeneutic-Dialectic Circle technique (HDC), the students
are asked to write on a small sheet of paper the concept of a particular topic
of curriculum components, and a series of activities follows that result in a
single concept of the class-group. From this moment, the theoretical foundation
on the theme of the study begins, in a complex and dialogic way, based on
Freire (2004) and Morin (2005). In this study, two experiments which were
conducted by the students of Master’s degree Silveira (2009) in Biological
Science and Cavalcanti Neto (2010) in Pedagogy Course and course are presented
and analysed. The results obtained in these two studies allows us to state that
the use of HDC through an IDS facilitates a dialogicity between teachers and
students and among the students themselves. It is also important to note the
effective participation of students in each activity of IDS, as well as the
development of criativity, criticism and production of new knowledge.
Keywords: Hermeneutic-Dialectic Circle - Interactive
Didactic Sequence – dialogicity - Complexity
INTRODUÇÃO
A Seqûencia didática interativa (SDI)
como ferramenta didática é um desdobramento da Metodologia interativa que adota
como principal instrumento de pesquisa de campo, a técnica do Círculo
hermenêutico-dialético (CHD). Este trabalho tem como principal objetivo
divulgar uma nova proposta didático-metodológica que damos o nome de Sequência
Didática Interativa (SDI) que pode ser aplicada no contexto de salas de aula,
tanto na Educação Básica, bem como nos cursos de Licenciaturas que formam os
futuros educadores para o ensino de Ciências e Matemática.
Esta nova proposta tem como procedimento
metodológico, a construção e reconstrução de conceitos sobre diferentes temas
dos componentes curriculares pertinentes a Educação Básica e Cursos de
Licenciaturas. Neste contexto, é realizada uma sucessão de atividades para
sistematização de conceitos individuais, e a seguir, são desenvolvidas
atividades com pequenos grupos, objetivando a formação de uma só definição do
tema em estudo, para se trabalhar a fundamentação teórica da temática proposta
ao grupo-classe.
Dentre algumas experiências já
realizadas por mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências
(PPGEC) da UFRPE, selecionamos dois trabalhos, que são aqui apresentados por
meio de sínteses, com análise dos resultados e impactos no processo ensino-aprendizagem.
Sendo assim, no desenvolvimento deste artigo apresentamos as bases teóricas que
alicerçam a SDI, para logo a seguir apresentar de forma sucinta, os dois
trabalhos selecionados.
A primeira experiência foi aplicada no
Curso de Ciências Biológicas dessa universidade, e a segunda, com estudantes do
Curso de Pedagogia, que cursavam a disciplina Fundamentos da Educação de Jovens
e Adultos (EJA) em uma Faculdade particular no município de Escada - PE. Estas
pesquisas foram realizadas em parceria com os mestrandos do PPGEC, Silveira
(2009) e Cavalcanti Neto (2010). Como fechamento deste trabalho, apresentamos
as conclusões das duas experiências realizadas que possivelmente poderão
subsidiar práticas inovadoras no processo ensino-aprendizagem na Educação
Básica, e mais acentuadamente no processo de Formação de Professores.
1. APORTES
TEÓRICOS QUE FUNDAMENTAM A SEQUÊNCIA DIDÁTICA INTERATIVA
Tomando como referencial a Metodologia
Interativa, que é fundamentada segundo os pressupostos teóricos do método
pluralista construtivista (GUBA e LINCOLN, 1989), no método de análise de
conteúdo (BARDIN, 1977) e no método hermenêutico-dialético (MINAYO,
2004), construímos uma nova proposta didático-metodológica que a denominamos de
Sequência Didática Interativa (SDI). Esta ferramenta didática utiliza a técnica
do círculo hermenêutico-dialético (CHD), tendo como principais aportes teóricos
a complexidade segundo Morin (1999 e 2005) e a dialogicidade, com base em
Freire (1987; 1992 e 2005).
1.1 Círculo
hermenêutico-dialético - CHD
Levando-se em consideração que a técnica
do CHD não tem nenhum esquema fechado, conforme Guba e Lincoln (1989), esta
técnica está sendo utilizada como ferramenta didática no contexto de sala de
aula, para aplicação de uma SDI. A utilização desta nova ferramenta didática
nos motivou a redefinir o CHD, incorporando os novos aportes teóricos da
complexidade e da dialogicidade que passam a ser os principais fundamentos que
é assim definida por Oliveira (2011)¹
O
Círculo hermenêutico-dialético é um processo de construção e reconstrução da
realidade de forma dialógica através de um vai-e-vem constante (dialética)
entre as interpretações e re-interpretações sucessivas dos indivíduos
(complexidade) para estudar e analisar um determinado fato, objeto, tema e/ou
fenômeno da realidade.
Para melhor entendimento dessa
definição, e como se processa a dinâmica do CHD seja como técnica para
realização de entrevistas em pesquisas de campo, e/ou como ferramenta didática,
construímos a figura 1, em que damos uma explicação detalhada quanto à
dialogicidade, dialética e complexidade dentro de uma visão sistêmica.
Tomamos como exemplo a aplicação do CHD
com um grupo de oito pessoas entrevistadas numa pesquisa de campo, que também
pode ser representada, como sendo uma sequência didática interativa. Passamos a
descrever de forma sucinta, os principais fundamentos teóricos que alicerçam a
utilização do CHD como técnica para coleta de dados em pesquisa de campo, e
como aplicação de uma SDI.
Visão sistêmica
Quando falamos em visão sistêmica, é
preciso ter presente o conceito de sistema, que segundo Vasconcelos apud
Bertaland (2004, p. 151), é “um conjunto de componentes em interação”, que
também pode ser considerada como totalidade, organização. Segundo essa autora,
para se ter uma visão sistêmica, é preciso trabalhar de forma integrada três
dimensões: complexidade, instabilidade e intersubjetividade.
Complexidade
Em regra geral, quando ouvimos falar em
complexidade, uma primeira representação que se passa em nossas cabeças diz
respeito a algo confuso, mas segundo Morin em sua obra, La Tête bien faite
(1999. p 57) esta pseudo confusão ou perplexidade se desfaz quando passamos a
refletir quando este autor nos diz:
[...]
a nossa educação nos ensinou a separar e a isolar as coisas. Separamos os
objetos de seus contextos, separamos a realidade em disciplinas
compartimentadas umas das outras. Mas como a realidade é feita de laços e
interações, nosso conhecimento é incapaz de perceber o complexus – o tecido que
junta o todo. Ao mesmo tempo o nosso sistema de educação nos ensinou, a saber
as coisas deterministas, que obedecem a lógica mecânica; coisas que podemos
falar com muita clareza e que permitem, evidentemente, a previsão e a predição.
Por meio dessa afirmativa, é fácil
entender que complexidade não é sinônimo de dificuldade, confusão, coisa
complicada, mas uma sucessão de idéias, de fatos, de fenômenos, de falas que se
entrecruzam na busca de explicações. Sendo assim, passamos a melhor entender
que no vai e vem da aplicação do círculo hermenêutico-dialético, a complexidade
se faz presente, por meio da dialogicidade, que nos ajuda na construção de
novos conhecimentos por meio de um melhor entendimento da realidade em suas
múltiplas relações em um determinado momento da história.
Ainda com base em Morin (2005, p. 105)
ao afirmar que “a complexidade é o princípio regulador que não perde de vista a
realidade do tecido fenomênico no qual estamos e que constitui nosso mundo”, é
que acreditamos que a aplicação da técnica do CHD para realização de uma
sequência didática interativa nos permite compreender a realidade em sua
dialética, dialogicidade e complexidade.
Entendemos como
complexidade a rede de
interações que se vai percebendo ao afunilar
a observação do fenômeno em estudo. Ao descobrir o dinamismo dessas relações, vai-se
percebendo que o objeto de estudo, fenômeno ou sistema é dinâmico, portanto
dialético, em constante mudança, evolução, transformação, fato que gera uma
instabilidade. Portanto, ao contextualizar o fenômeno em estudo, o observador
se dá conta de que está participando do processo, ou seja,
existe uma intersubjetividade.
Entendendo a realidade como um processo, na
qual os fatos e fenômenos se apresentam em movimento, ou seja, conectados e em
mutação, e por saber que fazemos parte desse processo, utilizamos a técnica do
CHD como um processo hermenêutico-dialético dentro de uma visão sistêmica.
Hermenêutica
A hermenêutica como ciência da
interpretação tem em Gadamer (2007) um dos maiores representantes na arte de
analisar em profundidade e interpretar textos. Segundo este autor, que foi
discípulo de Heidegger, a hermenêutica é entendida não somente como
interpretação de textos, mas, sobretudo como um constante entrar-em-diálogo
para compreensão da realidade e de todo e qualquer saber humano.
Dialética
Mesmo antes dos
pré-socráticos, a dialética vem sendo refletida e trabalhada como sendo um
constante movimento que resulta em mudanças, transformações.
Como base em Santos (2003, p. 180) vamos
encontrar em Hegel e Marx, os princípios da dialética “todo ser humano é
natural e concreto, sendo movido pelos conflitos [...] tudo se relaciona, tudo
se transforma”. Desta forma, entendemos a dialética como sendo o estudo da
realidade em seu movimento, argumentação, complexidade e análise das
“contradições”.
Dialogicidade
Segundo
Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido (1987) a dialogicidade deve ser
trabalhada como essência da educação como prática da liberdade, e afirma que:
“o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu” (p.78). Para este
autor, só existe diálogo numa relação, de amor, de reflexão e ação, pois o
diálogo só se estabelece ainda segundo Freire (1992, p. 43), como sendo “o
encontro amoroso dos homens que mediatizados pelo mundo, o pronunciam, isto é,
o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos”.
Isto, porque somos
seres inacabados e somente através do diálogo podemos apreender a realidade em
que vivemos para fazer e refazer a história. Portanto, nos ancorando nestas
bases teóricas, passamos a explicitar a construção e aplicação do CHD por meio
da Figura a seguir.
Figura 1
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Círculo hermenêutico-dialético - CHD2
|
Novamente
recorremos a Morin (2007, p.13) para melhor entendimento da aplicação do CHD no
processo de uma sequência didática interativa, em que se trabalha a
complexidade entendida
como sendo “um tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico”. Segundo este
autor, a complexidade sendo um tecido formado por diversos fios, não perde a
variedade e diversidades, ou seja, a complexidade destes fios que se
entrecruzam para dar origem a uma só unidade. É nesta direção, que a SDI
trabalha a realidade em toda sua diversidade, sem perder de vista as múltiplas
características dos alunos e/ou atores sociais que estão envolvidos no processo
de pesquisa e da SDI.
Em síntese, quando falamos em
dialogicidade, estamos nos referindo ao processo de interação entre as pessoas
para construção e reconstrução da realidade, e que também esta relacionada com
a complexidade.
1.2 Sequência
didática interativa - SDI
A SDI como sendo uma nova proposta
didático-metodológica utiliza o círculo hermenêutico dialético para trabalhar
conceito/definições em diferentes áreas do conhecimento, em especial para o
Ensino de Ciências, no cotidiano da sala de aula. Sendo assim, definimos a
sequência didática interativa, como sendo uma:
Sequência
de atividades, tendo como ponto de partida a aplicação do círculo
hermenêutico-dialético para identificação de conceitos e construção de
definições, que subsidiam os componentes curriculares (temas), segundo seus
fundamentos teóricos, que são fundamentados por teorias educacionais, propostas
pedagógicas e metodologias, que facilitam o processo ensino-aprendizagem.
A SDI começa a ser trabalhada a partir
dos conceitos e ou percepções sobre a temática á ser estudada, que cada aluno
e/ou participante de uma atividade didático-pedagógica já é capaz de expressar
no processo inicial desta sequência de atividades. É importante compreender que
esta concepção é resultante de um conhecimento que foi construído ao longo de
suas experiências, cujas idéias foram assimiladas ao longo de sua
existência/experiências sobre a temática que se pretende trabalhar no contexto
da sala de aula, ou ainda por meio de oficinas pedagógicas. Este procedimento,
além de facilitar a integração entre docentes, discentes, dos educandos entre
si e coordenadores, tem como desfecho final a sistematização e/ou a construção
de um novo conhecimento.
Após a sequência de
atividades que se inicia com a escrita em uma pequena ficha de papel por cada
um dos participantes do grupo-classe sobre o entendimento (conceito) de um tema em estudo, e que perpassando por
sistematizações sucessivas em pequenos grupos, tem como resultado, um só
conceito/definição deste tema.
A partir desta síntese final, tem início
a fundamentação teórica do tema em estudo e que dará início a uma nova sequência
de atividades por meio da associação destes fundamentos á luz de uma teoria
e/ou proposta metodológica. Como por exemplo, a construção de mapas
conceituais, segundo a teoria de Ausebel, e/ou a realização de um círculo de
cultura, com base em Freire.
2. RESULTADOS E ANÁLISES DAS EXPERIÊNCIAS CHD -
SDI
Conforme
nosso posicionamento no referencial teórico do CHD-SDI, passamos a oferecer ao
leitor de forma bem didática com exemplificações, a sistematização de duas
experiências com utilização do CHD quanto à realização de uma sequência
didática interativa.
2.1
Sequência didática interativa no Ensino de Química
A primeira
experiência foi realizada no Curso de Licenciatura em Química da UFRPE, no 7º
período, com duas turmas que estavam cursando a disciplina Metodologia do
Ensino, sendo a primeira, com dezesseis alunos do segundo semestre de 2008, e a
segunda, do primeiro semestre de 2009 com vinte alunos.
Os dados foram obtidos no contexto da
sala de aula por meio da aplicação da técnica do Círculo
Hermenêutico-dialético. O estudo foi centrado nas concepções dos estudantes
sobre a disciplina Metodologia do Ensino, quanto às representações desses
alunos sobre conteúdos curriculares e a utilização de métodos e técnicas. A
problematização dessa experiência foi assim formulada:
Quais
as concepções e
possíveis relações que
os estudantes de Licenciatura em Química estabelecem
entre os conteúdos disciplinares, métodos e técnicas de ensino?
Para encontrar possíveis respostas a
essa questão de pesquisa, fomos buscar os fundamentos teóricos nos principais
autores que trabalham a temática Formação de Professores, tais como: Carvalho
(2004); Gil-Perez; (2001); Imbernón (2006); Freire (2004); Schön (2000); Tardif
(2002) entre outros.
À luz da tipologia dos saberes segundo
Tardif (2002), quais sejam: saberes curriculares, saberes disciplinares,
saberes experienciais, e saberes da formação profissional, foi possível
perceber que os saberes experienciais como sendo os saberes que os alunos já
deveriam trazer quando chegam a um curso de Licenciatura, não foram bem
explicitados pelos
estudantes. Ainda foi possível perceber nas respostas dos alunos das duas
turmas, que as concepções provenientes dos saberes experienciais foram
apresentadas com respostas evasivas, como por exemplo: “a metodologia é um
conjunto de técnicas, e que não são devidamente trabalhadas na própria formação
inicial”. De acordo com os saberes da formação profissional, o que os alunos
definiram como metodologia de ensino não corresponde ao desenvolvimento destes
saberes.
No entanto, no final da experiência fundamentada
segundo Tardif (2002), observamos que na construção do texto que foi solicitado
para encerrar a SDI, os estudantes souberam relacionar saberes profissionais
com os saberes experienciais.
2.1.1
Considerações sobre a SDI no ensino de Química
Com relação às concepções dos estudantes
sobre a Metodologia, métodos e técnicas no Ensino de Química, e as possíveis
relações no processo ensino-aprendizagem, podemos concluir que mesmo os alunos
no final do curso de Licenciatura plena, eles ainda não avançaram suas
concepções em direção às definições que são postas pelas instituições de
Formação de Professores. Foi comum encontrar falta de clareza conceitual e
epistemológica entre os termos: método, técnica, ferramentas e saberes.
Na conclusão da atividade realizada, os
resultados sobre as relações entre conteúdo, método e técnica apresentaram
alguns dados relevantes em direção á construção dos saberes da formação
profissional, já que a maioria dos alunos reconheceu a relação que existe entre
os termos, e sua importância para o ensino-aprendizagem.
2.2 Sequência
didática interativa em uma turma de EJA
Nesta segunda pesquisa, além da
utilização do Círculo hermenêutico-dialético como ferramenta didática em sala
de aula, foi realizada uma sequência didática de forma interdisciplinar
associada com a proposta de Freire, quanto à realização de um Circulo de Cultura
3. Para
operacionalização desta experiência, foram analisadas junto aos Licenciados do
Curso de Pedagogia de uma Faculdade de Formação de professores no município de
Escada-PE, as concepções destes licenciandos sobre meio ambiente e
sustentabilidade.
A aplicação da SDI utilizando o CHD
facilitou a construção de duas definições precisas sobre os conceitos
solicitados. Após a fundamentação teórica com base em livros que tratam do meio
ambiente, artigos científicos e documentos oficiais, foi realizado um círculo
de cultura. Como resultado desta atividade, tivemos a construção de um texto
coletivo, em que cada aluno teve uma boa participação.
O que se pode observar nesta
experiência, é que a associação da SDI com a realização de um círculo de
cultura é bastante produtiva, no que concerne a um maior aprofundamento do tema
em estudo. Os participantes da SDI ficam mais motivados e têm melhor
conhecimento do tema em estudo, e se sentem mais seguros para construção de um
novo conhecimento, que se legitima por meio da construção de textos e artigos
científicos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Os resultados obtidos nas duas
experiências realizadas por meio da aplicação de uma SDI demonstraram que a
utilização do CHD como ferramenta didática no processo ensino-aprendizagem,
configura-se como uma excelente estratégia. Isto, porque ficou evidenciado o
bom nível de motivação dos estudantes por meio de uma efetiva participação,
interação entre docentes e discentes. A motivação e a participação de todos
envolvidos na SDI facilita a sistematização de conceitos/definições, que por
sua vez se constitui um bom referencial para se trabalhar os fundamentos
teóricos do tema em estudo, e que por sua vez, resulta na construção de novos
conhecimentos.
A realização das experiências, tendo como
ponto de partida, o circula hermenêutico dialético para aplicação de uma SDI
deu subsídios para uma dinâmica em sala de aula com um bom nível de
participação. No final do processo dessas duas experiências, foi construído de
forma coletiva e em pequenos grupos, textos e artigos científicos que
subsidiaram o processo ensino-aprendizagem de forma complexa, dialética e
dialógica.
Em síntese, a aplicação da técnica da
sequência didática interativa, foi bastante significativa nas duas
experiências, haja vista que na SDI para o ensino de Química, os estudantes
demonstraram interesse, e tiveram um bom nível de participação. Fato este, que
facilitou a associação entre teoria e prática para o ensino de Química.
Na segunda experiência com Licenciandos
do Curso de Pedagogia, e, que trabalham com a temática Educação de Jovens e
Adultos, a SDI também facilitou a construção e sistematização de conceitos e
construção de textos e artigos científicos sobre meio ambiente e
sustentabilidade.
Finalmente, com
base nessas duas
experiências ficou evidenciado
que a SDI se constitui
uma técnica consistente que facilita o processo ensino-aprendizagem, com a
efetiva participação
de cada estudante, e uma interatividade destes estudantes com os professores,tendo como
desfecho a construção de novos conhecimentos.
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* PhD em Educação pela Universidade de
Sherbrooke (Quebec) Canadá. Professora do quadro permanente do Mestrado e Doutorado
em Ensino das Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de
Pernambuco- UFRPE-PPGEC. marly@academiadeprojetos.com.br
NOTAS
1 É
importante assinalar que na fundamentação teórica do CHD, foram incorporados
recentemente os aportes teóricos da Complexidade (MORIN, 2005) e Dialogicidade
(FREIRE, 2004). A versão anterior da definição do CHD como carro-chefe da
Metodologia Interativa se encontra em Oliveira (2010, p. 131).
2 Na
Figure acima, o primeiro circulo pontilhado representa um grupo de oito pessoas
entrevistadas em uma pesquisa de campo, e/ou na aplicação de uma SDI. O segundo
ciclo simboliza a dinâmica do vai-e-vem das construções e reconstruções da
realidade pesquisada e/ou em estudo por meio da dialogicidade (síntese de cada
entrevista/diálogo). Cada entrevistado e/ou estudante é representado pela letra
E, e a síntese das entrevistas e falas dos estudantes pela letra C (construção
da realidade). Assim procedendo, verificamos que temos na figura 1, o resultado
da primeira entrevista e/ou resposta de estudante no processo da SDI (E1). Logo
a seguir, ao primeiro diálogo é realizada uma nova entrevista e/ou uma
atividade em pequenos grupos, cujo resultado da atividade anterior (primeira
síntese) é levado a uma segunda pessoa e/ou dos pequenos grupos, que após dar
suas respostas recebe a síntese da atividade anterior, e faz novos comentários,
e acresecenta novas informações. No caso citado, é representado por C1 e assim
sucessivamente até o último entrevistado/estudante. No caso da SDI, este
momento é vivenciado pelo grupo formado por cada representante das equipes
anteriores, que sistematizaram os conceitos trabalhados individualmente e
depois, em pequenos grupos, e que resulta em uma síntese por cada grupo
(complexidade). O terceiro círculo, no qual aparece no centro o termo
realidade, representa o resultado do encontro final com todas as pessoas
entrevistadas e/ou grupo-classe, que trabalhou na realização da SDI. Nesse encontro
final, é apresentado ao grupo de entrevistados e/ou estudantes da SDI, a
síntese final das entrevistas e atividades realizadas, para comentários e novos
aportes, dando-se aí o fechamento da pré-análise dos dados dentro de uma visão
sistêmica.
3 O
Circulo de Cultura foi criado por Paulo Freire na década de 1960, tendo sido
aplicado pela primeira vez no contexto dos movimentos populares na cidade de
Recife-PE. Esta técnica coloca os participantes em círculos, para uma discussão
aberta sobre os problemas que são comuns ao grupo, na busca de alternativas
para minimização ou superação das dificuldades. Na prática acadêmica, o círculo
de cultura visa discutir temas, dificuldades e ou interesse de determinados
grupos na busca de possíveis soluções, ao que é “comum” ao grupo, através da
dialogicidade.
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